No domingo da semana posterior,
Laércio foi até a casa de sua amada com um buquê de flores. Foi precipitado.
Depois de anos num metafórico castelo de marfim, refletindo sobre filosofia,
enriquecendo o intelecto, ainda não aprendeu a ter as qualidades masculinas
apreciáveis. É uma intelectualidade emocionalmente vazia, destituída de
qualquer substância. Suplica atenção.
-
Nada quero contigo, Laércio. Você não preenche o coração. A solicitude não é
requisito para a conquista, se a alma não está pré-disposta à paixão. – Falou
Amanda devido à presunção do pretendente em pensar que o amor estava disponível
assim... Tão facilmente.
-
Você ama outro, não é? Ama aquele tal de Ângelo.
- O
amor pelo meu chefe não frutifica. Somente gostosa atração física não acalenta sentimento
sincero. Estou perdida... Sem rumo.
- Não
precisa justificar o fato de você não conseguir se apaixonar por mim. A razão
não entende a alma humana. Nem os sistemas filosóficos tornam a vida
inteligível, porque são poucas respostas para muitas perguntas.
- Que
eu faço? Percebo que você é tão solitário quanto eu. Um inexperiente na arte do
amor. Vivo num trabalho no qual não me identifico, usufruto de muita liberdade,
mas, não sei o que fazer nas horas de ócio.
- Eu
bem sei. Desde a revolução industrial, uns séculos atrás, o homem sempre ficou
submetido a um trabalho degradante. Apertar parafusos numa linha de produção e
ter a mais-valia extorquida pelo déspota patronal tornou o homem menos do que
uma besta. Agora, nessa conjuntura econômica, para criar novos postos de
trabalho, a jornada de trabalho teve que ser reduzida para três horas diárias.
Isso bestializou o homem, do mesmo modo. Agora, as pessoas têm tempo suficiente
para se dedicar à balbúrdia. Tentei me dedicar às atividades superiores, à reflexão
filosófica e ao cultivo do espírito, porém, prego no deserto.
-
Sempre gostei de escrever. Queria ser escritora. No entanto, tive que cursar
administração por um designo bobo de meu pai. Agora, depois de tantos
fracassos, minha alma ficou quebrantada, sem forças, não tenho como prosseguir
na conquista dos meus sonhos. Fico assistindo novelas, navegando em redes
sociais ou dormindo nas horas vagas. É muito entediante.
- Nós
dois combinamos nesse ponto. E se você fizesse terapia? Não uma terapia convencional,
mas, um tratamento feito sob supervisão do psicólogo Henrique Polito? Ele é
capaz de hipnotizar o paciente, fazendo com o mesmo durma e sonhe com uma
situação ameaçadora. Daí, o paciente enfrenta o trauma e obtêm a cura.
As esperanças de Laércio em se
apoderar do coração de Amanda frutificaram. Disse o filósofo que os dois devem
lutar para divulgar a literatura, humanizar o mundo através das artes e
preparar os homens para as atividades superiores, ou seja, a filosofia.