quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

Capítulo 4 – parte 1: Nossos pecados


- Sonhasse com o quê? – Questionou o psicólogo Henrique Polito.
- Sonhei que um amigo meu, Laércio, eu e meu pai estávamos conversando. A liberdade foi solicitada. Pedimos que ele aceitasse o fato de eu querer abandonar a administração e autorizasse o meu mergulho no mundo literário.
- E então...?
- Nada feito.
- Impossível. No processo de hipnose, comuniquei, ao seu inconsciente, uma sugestão subliminar para reforçar a auto-estima. A conseqüência disso é que, naturalmente, o seu pai, no sonho, autorizasse você a correr atrás dos objetivos seus. Daí, uma vez que a situação traumática foi enfrentada, você poderia solicitar, de fato, permissão ao seu pai, no mundo real e viver a vida que você desejou sempre.
- A sugestão hipnótica não foi forte o suficiente. Não entendo. Será que não sou sugestionável o suficiente?
- Amanda, veja uma coisa: A mente pode se curar. O que eu tentei fazer, através da terapia do sonho, é fazer com que a verdade seja buscada no âmago do interior seu. A questão não é ser mais ou menos sugestionável, mas, sim, dar novos significados a velhos valores, ver a vida como um processo em construção. Noutras palavras, sempre haverá pessoas que impedem o nosso crescimento. Podemos encontrá-las ao atravessar a esquina. O ideal é acalentar a esperança num amanhã melhor, ao invés de nutrir expectativas. Sabe a diferença entre expectativa e esperança?
- Não.
- Expectativa é esperar um resultado “pré-fabricado”. Segue uma lógica linear. Veja, por exemplo, a produção de diplomados por via escolar. Espera-se que um bom emprego seja ganho quando o estudante estiver alcançado o título de graduado. Isso é expectativa. Ora, ninguém está livre das vicissitudes da vida. O espírito humano não consegue eliminar o contingente, o acaso, aquilo que foge da alçada das mãos humanas. Ter esperança é, ao contrário, acreditar que, ficaremos bem independentemente do resultado, da possibilidade, das incontáveis variáveis, do futuro enquanto incógnita e apesar do fortuito. Ser otimista é crer no resultado. Ser entusiasta é acreditar no processo, fazer independentemente do que virá. Porque a porta fechada de hoje pode ser a janela aberta de amanhã.
- Então... – concluiu Amanda – Preciso ter mais esperança e menos expectativas. Contentar-me com um resultado modesto de hoje, para suportar o fracasso de amanhã e continuar a tentar até conseguir.

- Sim. Bem, fico feliz por você ter compreendido isso. Vejo que, apesar de não termos logrado êxito no sonho, você entendeu a filosofia por trás da terapia. Vamos nos encontrar numa próxima consulta. 

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