domingo, 4 de janeiro de 2015

Capítulo 3 – parte 1: O Mentor

Bem, vamos dar uma pausa nas postagens sobre redução da jornada de trabalho e continuar a contar os capítulos do livro "Onírico".

- Fala-me mais sobre a sua vida. – Pediu o psicólogo Henrique Polito.
- Estou dividida entre dois amores. Um é o meu chefe, um cafajeste, sedento por sexo, possui uma personalidade magnética, conversa gostosa, corpo atlético, olhos e cabelos negros. O outro é um professor de filosofia, que não me desperta tanta atração quando o primeiro. Sujeito desprezível, tenta flertar através de solicitude, ao invés de agir naturalmente. Acanhado, inepto, franzino, possui uma psicologia interna repulsiva, um bajulador de marca maior porque não confia em si mesmo.
- Amanda, não pense assim... A filosofia é, realmente, inútil, ao menos para o nosso regime cruel de assalariamento que menospreza o livre pensar. Mas, a filosofia é intrinsecamente útil no momento em que ela se torna base para um projeto de emancipação do ser humano. Quebram-se as correntes que prendem o homem à ignorância, à superstição, ao mito e ao senso comum.
- Mas, o professorzinho é um típico intelectual de gabinete, alheio à realidade. Vive de suas filosofias abstratas e descoladas do real. Já o meu chefe, Ângelo, sujeito muitíssimo vivo e esperto, é um homem de ação, proativo, é sedutor simplesmente porque consegue falar sobre assuntos banais com muita desenvoltura, ao invés de falar sobre abstrações filosóficas sem aplicações alguma. 
- É apenas isso que aflige o coração seu, Amanda?
- Não. Vim me consultar com você, meu psicólogo, porque sou alma em frangalhos. Psicologicamente vencida. Meu pai, sujeito reacionário e conservador nunca levantou a mão para me agredir, mas, por meio de uma educação repressora, deixou-me condicionada, submissa e podou-me a livre iniciativa, a imaginação inventiva e a criatividade. O lema dele, o trabalho dignifica o homem, incutiu-me valores e ideologias retrogradas e antiquadas. Ao invés de explorar o meu lado artístico, fui obrigada a fazer faculdade de administração. Saí de lá com um diploma inútil, porque a teoria escolar antagoniza com a prática profissional e tive que me contentar em ser uma reles secretária. O fato é que como a jornada de trabalho foi reduzida para repartir equitativamente os empregos, fiquei sem nada para inventar. Há muito tempo livre, pouca diversão e muita tristeza.
- E como você pensa em explorar o lado artístico seu?
- Quero me tornar escritora! Mas, ao mesmo tempo, tenho medo de me dedicar a isso... Laércio, por exemplo, optou pelo caminho da filosofia e é um fracasso. Os livros de filosofia dele não vendem nada.

- Bom, eu, como psicólogo, trabalho com um método novo. Hipnotizo a pessoa e ela passa sonhar com o desejo, trauma ou problema dela. Daí, ela ou adquire forças para perseguir o sonho dela ou consegue se curar do trauma. Quer tentar? 

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