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Conforme eu vinha comentando, eu, ainda, quero me tornar escritor. A ação
humana desemboca em efeitos imprevisíveis. A vida não é um fluxograma ou um
esquema linear onde diploma é garantia de emprego. Solicitude, boa educação e
paparicos não são, do mesmo modo, passaporte seguro para o romance. Leva muito
tempo até que eu conseguir me tornar um bom escritor. A maioria das pessoas
menospreza a minha filosofia, a exemplo do que aconteceu com Lúcia, porque em
princípio, a filosofia para nada serve. A reflexão, a literatura e o pensamento
crítico não são como um cálculo matemático que se pode utilizar para se fazer
um programa de computador ou uma troca de idéias a ser feita com um amigo
combinando um encontro, como sempre fazia Túlio. Noutras palavras, não é um
conhecimento aplicado ao mundo concreto. O ganho obtido com o estudo
sistemático da idéia, da ética e do que é justo não é imediato. Leva anos até
que a pessoa refletir sobre suas próprias práticas, numa análise metafísica, o
porquê do mundo estar impregnado com determinadas visões de mundo.
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Bem, Felipe, o que significa que filosofia não dá dinheiro, não é?
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Exatamente. Eu filosofo para ampliar meus horizontes intelectuais, abrir as
portas da percepção, ir além do óbvio ululante. É necessário saber do que se
gosta para, daí então, ser feliz. Enquanto Túlio é pessoa mais prática, eu sou
mais acadêmico, mais intelectual. O mundo precisa de pessoas como eu e Túlio
para funcionar. Nem todos podem ser donos de multinacionais, mas, todos, sem
exceção podem ser ótimos profissionais e bons cidadãos. Sonho com o dia em que
terei minhas ideias valorizadas e lutarei para buscar a minha satisfação
pessoal, ao mesmo tempo em que torço pela felicidade de Túlio e Lúcia. Porque,
se seguirmos a linha do “olho por olho”, o mundo acabará cego. A escola ideal
não é aquela que premia os melhores estudantes com elogios ou notas. Isso acaba
formando hierarquias. Cada pessoa tem diferentes habilidades, sonhos e aptidões
diferentes. A comparação apenas traz decepções.
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Você tem namorada? Esqueceu a Lúcia?
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Tenho 26 anos e nunca experimentei beijo na boca. Não se pode usar força de
vontade para se apaixonar e não é possível seduzir alguém por meio de erudição,
boas qualidades ou ótimo caráter. Agarrar o amor quando o mesmo se apresenta e
ficar atento às oportunidades que a vida oferece é dificílimo. A borboleta
apenas aparece em jardins bem cuidados e foge de toda a tentativa de captura.
Não há regras para acontecer o romance.
- Não
entendo o que essa sua sapiência toda tem a ver com o fato de você ter me
criado nessa história.
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Quero que você, ao despertar desse sonho, consiga encarar o seu pai, pedir-lhe
permissão para largar a vida de secretária e seguir com o projeto de ser
escritora. Minha vida é análoga a sua: temos que focar no nosso desenvolvimento
pessoal. Eu escrevi essa história, “Onírico”, para poder colocar, no papel, o
que me angustia. Ter registrado minhas resoluções para essa nova etapa da vida.
Não se pode controlar o futuro e as expectativas nunca são concretizados,
porque, conforme disse, a vida não é fluxograma. Mas, pode-se crer que sou
capaz de me contentar com o pouco de hoje para ter esperanças de que, mesmo
com conseqüências imprevisíveis, minha
boa ação trará bons frutos para os dias vindouros. Semear o bem não
importa para quem e sem se importar com o que vem.
Fim.
parabéns muito bem
ResponderExcluirvocê tem uma percepção diferente