sábado, 3 de janeiro de 2015

Pelo direito a me dar um “fora”.


                Nossa cultura foi sempre permeada por valores machistas, conservadores e retrógrados. A mulher, submissa ao homem, reduzida à mera condição de “coisa”, teve negado o direito à palavra. O homem crê que a fêmea lhe deve favores sexuais. Perpetua-se a dominação masculina. Quando fico encantado por uma garota, apaixonado, eu tento ser agradável, seduzir através da boa educação e da solicitude. E isso nunca deu certo. Não se pode comprar o amor através da coerção ou de gentilezas. A pessoa amará a outra se a primeira já tiver uma pré-disposição a isso, assim, o amor florescerá do convívio e da forma doce com que um trata o outro. Por isso, tento agradar, sim, mas, sempre com a consciência de que, talvez, a moça não deseja nada e não há como obrigá-la. Aposto no amor. Aposto na esperança. Tento me desvencilhar dos antigos paradigmas, torcer que a amizade, grávida de um sentimento superior, a paixão, possa fazê-la nascer. Isso só se consegue aos poucos. Por isso, sou a favor do feminismo e do flerte educado. Abomino o assédio, o falso moralismo e o machismo. Veja, por exemplo, como o velho paradigma se manifestava nos meus poemas dos meus tempos juvenis:

O meu sonho está despedaçado

Morto e enterrado.
Romeu e Julieta nasceram para se amar.
Mas não para juntos ficar.
Assim somos nós, amantes a mercê do destino sádico.
Vivendo um romance esporádico.
Eu tive muitos sonhos sonhados...
Desejos que sempre ficarão engavetados.
Planos, projetos... Tudo virou fumaça.
Muita coisa fracassa.
Não se pode tudo ter.
 Jamais vamos unidos viver.
Seu amante... Nunca irei sê-lo.
Seu coração... Nunca irei tê-lo.
Melhor desistir.
Melhor nem persistir.
Declaro oficialmente que sempre vou amar.
Mas que não há como continuar.
Muitos romances terminam de forma mágica.
Há aqueles que terminam de forma trágica.
Tudo virou cinza, resto, dejeto...
Cansei de ser objeto.
Triste que seja esse dilema
Seja esse último poema.
Vivia numa ilusão, num mundo fantasioso.
Algo bom, gostoso...
Chega de ser poeta esperançoso.
Mas há de acabar.
Outro amor hei de buscar.
Já sonhei muito, bastante.
Vivia distante...
Você, meu maior sonho estará inacabado.
Vou te deixar de lado.
Amigos, apenas bons amigos, boa amizade...
Amor, morto amor, triste verdade.
Acabou... Acabou.
A esperança se esgotou.
Mesmo tendo esposa, filhos, netos algum dia...
Amar você sempre eu ia.
Largaria religião, uma vida, qualquer familiar...
Para contigo estar.
 Fugiria com meu amor para qualquer lugar.
Vou te amar de qualquer maneira.
Jogaria tudo para o alto... Chefe, esposa, tarefa rotineira...
Sempre vou ser um rato numa ratoeira.
E você sempre será uma gata traiçoeira.
Toda coisa é passageira...
Exceto você... Motivo de o meu sofrer.
Você... Motivo de o meu viver.
O amor tem o exagero
como tempero.
Meu destino é um poeta romancista.
Um contista.
Escrevendo da minha vida, um poema de dor.
Um triste final... Um horror.
Maldito destino, maldito autor.
Um poema dentro de outro poema que é esse mundo.
 Poema caracterizado pelo pessimismo profundo.
Um triste romance dentro de um triste romance.
Descobri que sou o protagonista sem nenhuma chance.
É desagradável como um tijolo numa vidraça
Saber que essa poesia é minha cachaça,
Um vício de um fracassado.
A sina de um poeta apaixonado.
Cansei de ficar sonhando que estou te abraçando.
E desperto em meio a soluços, choro e um enorme berreiro
Vendo que aquilo que abraço é um travesseiro.
Acha que eu estaria perdendo meu tempo escrevendo algo assim
Se você não fosse importante para mim?
Daqui a alguns anos, você estará casada, feliz...
Mas sempre serei um Romeu infeliz.
E eu ainda te escreverei poemas, tomando essa cachaça
Vivendo em eterna desgraça.


O jovem, inexperiente na arte do amor, no caso, eu, tenta fomentar o sentimento a partir de versos que enaltecem um amor, um louco amor, por uma garota que nada quer com ele. Nada disso é saudável. É uma violência simbólica, a linguagem usada como instrumento para propagar mensagens demasiadamente sentimentais, a força empregada com o intuito de seduzir a musa encantadora. Nada disso dá certo. É preciso entender que nem sempre o sentimento está disponível. Isso é, também, uma forma de se preparar para acalentar a esperança num amanhã melhor, sem falsas expectativas, parar com o assédio e flertar da forma correta. 

2 comentários:

  1. que bacana sua postagem!! Mulher não é coisa ne? e merece respeito!! MUito bacana seu blog.... e suas postagens

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  2. Amei, estou encantada com seu post. Todos os homens deveriam ler este post. Parabéns!!!

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